Escassez de IPv4 no LACNIC: A Lentidão da Lista de Espera Frustra Provedores

 A escassez de endereços IPv4, um recurso crítico para a operação de redes de internet, continua a desafiar provedores na América Latina e Caribe. Desde o esgotamento do estoque de IPv4 pelo
(Latin American and Caribbean Network Information Centre) em 19 de agosto de 2020, operadores dependem de uma lista de espera para obter blocos recuperados ou devolvidos. No entanto, relatos de empresas, como a de um provedor brasileiro que aguarda desde 2021, apontam para uma lentidão frustrante no processo, com a lista avançando apenas 3 a 5 posições por mês, apesar da liberação de 10 a 40 blocos.

O Funcionamento da Lista de Espera

A lista de espera do LACNIC foi criada para gerenciar a alocação de endereços IPv4 recuperados, seguindo políticas definidas pela comunidade da Internet (Manual de Políticas, capítulos 2 e 11.1). Para entrar na fila, a organização deve ser associada ao LACNIC, possuir endereços IPv6 alocados e justificar a necessidade de IPv4. Cada empresa pode receber no máximo um bloco /22 (1.024 endereços), e a ordem de atendimento é baseada na data de submissão do ticket.

Em julho de 2023, o LACNIC reportou 1.070 organizações na lista, com um tempo médio de espera de 825 dias (cerca de 2,3 anos). A alocação depende da recuperação de IPs, que passam por uma quarentena de 6 meses para evitar problemas como listas negras. Nos primeiros 6 meses de 2023, foram alocados 65.792 IPs, equivalente a cerca de 10-11 blocos /22 ou até 40 blocos menores (/23 ou /24) por mês. Apesar disso, o progresso lento da lista — com apenas 3 a 5 posições avançadas mensalmente, segundo relatos — tem gerado questionamentos.

Por que a Lista Anda Tão Devagar?

A percepção de lentidão pode ser explicada por alguns fatores:

  • Demanda Alta, Oferta Baixa: Com 600.000 IPs solicitados em 2022, a oferta de endereços recuperados é insuficiente. A liberação de 10 a 40 blocos por mês, muitas vezes em tamanhos menores como /23 (512 IPs) ou /24 (256 IPs), atende poucas organizações de cada vez.

  • Ajustes na Ordem: A posição na lista pode mudar se tickets mais antigos forem aprovados tardiamente, o que dá a impressão de que empresas “passam na frente”.

  • Análise Rigorosa: Cada solicitação passa por uma avaliação detalhada, e atrasos em documentação ou pagamento (que tem prazo de 14 dias após pré-aprovação) podem retardar o processo.

  • Prioridade para Infraestrutura Crítica: Algumas alocações para redes essenciais podem consumir blocos sem impactar a lista de espera regular.

No Brasil, o NIC.br gerencia tickets independentemente, mas a experiência relatada por provedores locais reflete o cenário regional. Um operador, que prefere não se identificar, espera desde 2021 e relata que a lentidão “parece injusta”, embora reconheça que a escassez de IPv4 é um problema global.

Impactos para os Provedores

A demora na obtenção de IPv4 afeta diretamente a expansão de redes, especialmente para pequenos e médios provedores que dependem desses endereços para atender novos clientes. Com tempos de espera que podem chegar a 7 anos (estimativa de 2023), muitos operadores enfrentam dificuldades operacionais, como maior uso de NAT (Network Address Translation), que pode comprometer a qualidade do serviço.

Além disso, a falta de transparência detalhada — a lista de espera não é pública por questões de privacidade — alimenta desconfianças. “Estamos na fila há quatro anos, e parece que a lista mal se mexe”, desabafa o provedor brasileiro. Embora não haja evidências de irregularidades, a percepção de lentidão tem gerado debates nos fóruns do LACNIC.

Alternativas à Espera

Diante da escassez, operadores têm buscado soluções para mitigar o impacto:

  • Transição para IPv6: O LACNIC incentiva fortemente a adoção do IPv6, que não enfrenta escassez e está disponível sem lista de espera. No entanto, a transição exige investimentos em infraestrutura e compatibilidade com clientes.

  • Mercado Secundário: A compra de blocos IPv4 no mercado de transferências é uma opção, mas os custos elevados (cerca de US$ 50 por IP, segundo estimativas de 2023) limitam o acesso.

  • Otimização de Recursos: Técnicas como NAT e CGNAT permitem maximizar o uso de IPs existentes, embora com limitações técnicas.

O Futuro do IPv4 e as Recomendações

Com a recuperação de endereços IPv4 diminuindo, o LACNIC estima que novas solicitações podem esperar até 2030. Para quem está na fila, como o provedor de 2021, o conselho é:

  1. Monitorar a Posição: Consultar o LACNIC ou NIC.br para verificar a posição exata na lista e possíveis pendências.

  2. Participar do Debate: Engajar-se nos fóruns do LACNIC para propor melhorias nas políticas de alocação.

  3. Investir em IPv6: Planejar a transição para IPv6 como solução de longo prazo, reduzindo a dependência de IPv4.

O LACNIC reforça que a lista de espera segue regras transparentes, mas reconhece os desafios da escassez. “A solução definitiva está no IPv6”, afirmou um representante do LACNIC em evento recente. Enquanto isso, provedores na América Latina seguem na espera, buscando equilibrar a operação com recursos limitados.

Tem sugestões ou experiências com a lista de espera do LACNIC? Compartilhe nos comentários ou entre em contato com nossa redação.

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